sábado, 12 de maio de 2012

Lady Maria Mountbatten- Emily Rowanson

Lady Mountbatten mora em uma bela e grande casa em Mayfair, como sua irmã Olga.

- Olá!- ela disse quando me viu chegando. Estaria ela me esperando na porta de casa?

- Entre, por favor!- ela disse de novo, com um sorriso. Seu sorriso era largo e verdadeiro. Ela também tinha grandes e belos olhos azuis escuros (eu ouvi dizer, típicos da família Romanov). O cabelo era castanho claro, não tanto quanto o da Grã-Duquesa Olga, só que mais claro que o de sua irmã Tatiana. Ela era um pouco gorducha, mas com 4 filhos e um quinto a caminho, isso não me surpreende.

A casa dela era bonita e antiga. Na sala de estar, onde a entrevista foi realizada, duas meninas conversavam animadamente. Elas deviam ter as mesmas idades das grã-duquesas Eugênia e Tatyana.

- Kate, Vicky, vão lá para o quarto. Eu preciso falar com a moça.

Ela assentiram, deram um beijo e um abraço na mãe e foram. Uma das garotas era ruiva, quase que uma cópia perfeita da grã-duquesa Tatyana, a não ser pela cor do cabelo. A outra tinha cabelo bem escuro e olhos verdes.

- Minhas filhas. Catherine Alexandra Anna, nascida em 1920, e Victoria Elizabeth Mary, de 1921. Eu também tenho a Alice Olga May, de 1923. Meu menino, que todos chamam de "Nicky inglês", nasceu em 1927. E meu próximo vai chegar logo! Eu não tenho certeza, talvez daqui a 3 ou 4 meses. Estou muito ansiosa!

Ela pegou um álbum e me mostrou algumas fotos dos filhos. Por 15 minutos, até que disse:

- Oh, eu sinto muito! Eu interrompi você! Vamos, comece logo a entrevista antes que eu faça isso de novo!- ela disse rindo. Eu sorri.

- Tudo bem. Eu li que, quando você nasceu, algumas pessoas ficaram decepcionadas por não ser um menino. Você sentia isso?

- Sim. Eu era um tanto insegura, por ser a filha do meio e por meu nascimento não ter sido completamente bem recebido. Apesar de todos me garantirem que eu era tão amada quanto minhas irmãs e meu irmão.

Pergunto se o casamento dela foi bem recebido na família.

- Mais ou menos. Houve uma certa oposição, especialmente pela tia Miechen [Maria Pavlovna sênior, 1854-1920]. Alguns diziam que o Dickie não tinha "estatuto" suficiente para se casar comigo. Mas apenas importava para mim a opinião dos meus pais. Eles concordaram, contanto que eu não mudasse de religião. Eu, que nunca havia pensado nisso, concordei, e tivemos uma cerimônia ortodoxa, apenas, sem nos casarmos na Igreja Anglicana. 1 ano depois, a Kate nasceu. Kate é a ruiva e Vicky é a de cabelo escuro. Alice é loura, muito parecida com a avó, minha tia Victoria de Hesse- Darmstadt.  O Nicky tem o cabelo e olhos escuros, muito parecido com o Dickie. Desculpe! Eu sempre acabo falando deles!

Sorrio mais uma vez. A família é simplesmente tudo para ela, qualquer um pode perceber. Passo para a próxima pergunta:

- Então, você está grávida? Eu nem percebi!- Na verdade, eu achei que ela estava simplesmente acima do peso. Mas, é claro, eu não disse isso.

- Sim! Acho que é por causa desse maravilhoso vestido que a Tanya desenhou para mim, há 3 anos! É de musselina, num estilo que ela disse se chamar "silhueta Império". Ela disse que é especial para mim e nos períodos em que eu estiver grávida! É a segunda vez que uso-o. Ela fez outros 5 para mim neste estilo. Eu gosto muito destes vestidos, mas como acho que este será meu último, não sei se terei muitas outras oportunidades de usá-lo.

Pergunto sobre a hemofilia. Ela diz:

- É horrível. Lembro o quanto era agoniante ver o meu querido irmão tão doente, de cama, sem poder sair do quarto. Não desejo este mal a ninguém. Mas, infelizmente, meu filho tem hemofilia. Felizmente, ele não teve nenhum ataque sério até agora. Eu espero que continue assim!

Fico triste por Lady Mountbatten. Ela parecia ser tão boa que não faria mal a uma mosca. E isso acontecendo.

- Sei que a madame tem muito interesse em arte. Qual é a sua obra favorita?

Ela deu um largo sorriso e disse:

- As minhas obras favoritas são as de arte pré-rafaelita. Tenho 5 pinturas pré-rafaelitas na minha Galeria. Venha ver!

Eu a acompanhei. Ela realmente tem uma ótima galeria, as obras pré-rafaelitas em sua posse são muito belas. Ela também tem algumas outras obras em diferentes estilos, principalmente neoclássicas e vitorianas. Mas também existem várias obras religiosas e retratos assinados como "M.N".

Percebendo que a minha atenção se voltava principalmente para essas outras obras, disse:

- São as que eu fiz. Eu gosto de pintar. Às vezes, faço por encomenda, mas geralmente é apenas para eu me divertir. A que a senhora olha mais fixamente é a minha pintura de Feodorovskaya mãe de Deus, um famoso ícone ortodoxo, e ícone patrono da minha família.

Ao lado, pinturas de São Nicolau e Santa Eudóxia de Moscou (segundo ela).  E, na outra parede, retratos pintados por ela da sua família. O czar em um uniforme cáqui, a czarina em um vestido malva, suas irmãs e seu irmão. Seu marido (em roupas civis), suas filhas (juntas em um único retrato) e seu único filho. Sua sogra, já de luto, e suas cunhadas. Ela realmente pinta muito.

- Bom, parece que a senhora realmente ama pintar!

-Sim, é verdade!- ela responde aos risos.

Ainda, na galeria, pergunto se ela ainda tem muitos laços com a Rússia.

- Sim! Eu falo russo com minhas filhas, na maior parte das vezes. Visito a Rússia no verão, também. Meu pai uma vez disse-me, por carta, que meus filhos são muito conhecidos lá! Eu amo a Rússia, nunca teria coragem de deixá-la completamente.

Voltamos para a sala e eu me despeço. Antes de ir, ela diz:

- Espero que a senhora volte algum dia em uma ocasião menos formal! Foi muito bom conversar com a senhora!

De Lady Mountbatten, tenho a melhor impressão possível.

sábado, 28 de abril de 2012

Rainha Tatiana da Rússia- Emily Rowanson

Encontrei a rainha Tatiana uns dias depois da minha conversa com a grã-duquesa Olga. Ela estava hospedada na Malborough House, junto com seus pais e seus dois filhos mais novos, príncipe Nicolau da Sérvia (de 10 anos) e a princesa Olga da Sérvia (de 7 anos). O pai das crianças, o rei Alexandre e o filho mais velho, Pedro, ficaram na Sérvia (oficialmente Yugoslávia).

Ela estava vestida com vestido vermelho muito elegante. Ela era altíssima e ainda usava sapatos com salto, o que a fazia parecer ter mais de 2 metros. Mas ela tinha apenas 1,80. O cabelo era castanho, cor de madeira, puxado para trás num coque. Seus olhos eram cinzentos, bem espaçados e misteriosos. Não sorriu imediatamente após me ver. Deu um aperto de mão firme, igual ao de sua irmã Olga. Disse-me para sentar-me e começamos a entrevista.

- Eu gostaria de saber qual era a sua relação e a de suas irmãs com Rasputin.

Devo ter sido mal educada, indo em uma questão tão delicada tão rapidamente. Ela me respondeu cordialmente, mas eu podia ver o constrangimento que a causei. Senti vergonha de mim mesma.

- Nós nunca éramos deixadas completamente sós com ele, se é isto que a senhora quer dizer. Mas éramos muito íntimos deles. Ele sempre ia ao palácio para curar Alexei.

Pergunto se ela acreditava nele.

- Sim, é claro que sim. Na época, todos acreditavam. Ele ainda era visto com desconfiança em algumas partes da família, como a mãe do Dickie, minha tia Victoria, e minha tia Ella, e tantos outros. Mas nós acreditávamos nele. Completamente. Hoje, eu não tenho certeza se ele era verdadeiro ou não. Mas os boatos maldosos que circulavam e ainda circulam são muito caluniosos e mentirosos.

Resolvo passar logo para a próxima pergunta, sobre a Grande Guerra. Ela diz:

- Foi um erro. Um erro que quase custou a vida da minha família. Devemos tentar, a todo o custo, evitar que outra guerra ocorra. Mas você deveria ter perguntado isso para minha irmã Olga. Ela ama política.

Fiquei arrependida de não ter perguntado nada desse tipo para a grã-duquesa Olga. Mas prossegui com a entrevista, evitando os temas políticos. Como filhas, de um autocrata, elas devem defender suas ideias. Que entrariam em choque com as minhas. Mas resolvi perguntar:

- Você defende a autocracia?

Ela ergueu as sobrancelhas.

- Ela é necessária para alguns povos que ainda não estão educados para a monarquia constitucional. Por exemplo, a Inglaterra é completamente preparada para a monarquia constitucional, por que tem um povo acostumado a ela. Porém, na minha opinião, alguns povos não estão preparados para a monarquia constitucional por que não foram educados para ela. Como os russos.

Seus pontos de vista são estranhos para mim. Resolvo ir numa linha diferente.

- Eu li que, na juventude, a senhora era muito próxima a sua irmã Olga. Até hoje é assim?

Ela deu seu primeiro sorriso desde que eu havia chegado.

- Oh, sim. Eu escrevo cartas a Olga pelo menos duas vezes na semana. E eu passo férias em sua casa a cada dois em dois anos. Nós no adoramos. Sua segunda filha recebeu meu nome e minha filha mais velha recebeu o nome dela.

Perguntei por que nenhuma das crianças das grã-duquesas tinham o nome da avó.

- Alexandra é considerado um nome azarado na família. Todas as mulheres de nome Alexandra da família imperial não passaram muito dos 20 anos. É melhor prevenir do que se remediar.

Eu fiquei consternada com aquela observação. A revolução rebentou enquanto Alexandra era czarina.

- Certo. Bom, existe uma... grande diferença de idade entre a senhora e o seu marido. Isso dificultou a relação entre vocês?

- Não. Eu o conheci no início dos anos 1910 e nos correspondemos durante a Guerra. Nos conhecíamos bastante. A diferença de idade não importa quando se gosta realmente de uma pessoa. Eu tenho 35 anos e ele 44. Nessa idade, a diferença realmente não importa muito.

Sobre os filhos, ela diz:

- Eu os amo muito. Petar, Nikola e Olga são as coisas mais importantes que tenho. Eles são muito parecidos. Petar e Nikola tem cabelo e olhos negros como a noite. Olga tem os olhos cinzas e o cabelo castanho escuro, meio avermelhado na luz. Parecida comigo. Como nós moramos perto da Rússia, passamos alguns períodos do ano lá, como o verão e às vezes o inverno.

Pergunto-lhe sobre moda. Ela se entusiasma e diz:

- Eu adoro! Sempre busco seguir a moda. Quem fazia as minhas roupas era Madame Lesson, em Paris, mas quando começou a Crise, eu comecei a desenhar e costurar minhas roupas e a dos meus filhos. Eu mesma desenhei o que estou vestindo agora. Gosto de vestidos longos e de sapatos com um salto um pouco maior atrás, pois tenho dores constantes no calcanhar. As minhas irmãs às vezes também vestem o que eu desenho.

Sinalizei que a entrevista tinha acabado. Ela se levantou e apertou a minha mão.

- Foi bom conhecer a senhora- ela disse.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Grã Duquesa Olga Nikolaevna- Emily Rowanson

A grã-duquesa Olga Nikolayevna mora em uma bela casa em Mayfair, Londres, perto do Hyde Park (e também perto de sua irmã, a grã-duquesa Maria). Ela é simples e vitoriana, refletindo seus gostos. A entrevista foi feita numa pequena mesa de chá na varanda da casa, terrestre.

Quando eu cheguei, às 15:57, a grã-duquesa lia um livro, enquanto uma criada colocava chá e pãezinhos na mesa. Quando cheguei a mesa, ela levantou-se e apertou a minha mão. Seu aperto era firme.

- Boa tarde- ela disse com um tom simpático- Você é a Srta. Rowanson, a jornalista? Prazer, Grã-Duquesa Olga Nikolayevna. Sente-se!

Notando a minha hesitação, ela emendou:

- O meu chá às 16:00 da tarde é sagrado. Eu nunca o faço em outro horário. Sinta-se a vontade para tomar comigo.

A grã-duquesa Olga usava um vestido azul com botões na frente e cintura desmarcada, que ia até o tornozelo. O cabelo loiro estava preso em um birote no alto da cabeça. Também usava um casaco preto, que depois abotoou. Era uma roupa simples mais bonita. Ela me pareceu simplíssima desde a primeira vista. E um pouco acima do peso, também.

- Então...Comece a entrevista!

- Sim, hã...Madame. Eu gostaria de saber como era a vida da senhora com seu pai, no palácio?

- Ao contrário do que todos podem pensar, vivíamos de um jeito muito simples. Nossas camas eram as mesmas usadas por militares, sem travesseiros e com poucos cobertores, até mesmo para o Alexei. Tomávamos banhos frios pela manhã e sempre estávamos costurando, nunca sem nada para fazer. Também passávamos muito tempo com nossos pais e com os oficiais da nossa idade que cuidavam da nossa segurança antes da revolução. Eu adorava a minha vida.

Pergunto se ela lia as notícias, o que falavam sobre os seus familiares. Ela confirma com a cabeça enquanto toma um gole do seu chá. Quando acaba, continua a responder:

- Oh, sim. Eu sempre lia os jornais e não conseguia entender por que as pessoas odiavam tanto a minha família. Acho que, de uma certa forma, eu esperava a revolução. Mas nunca achei que tomaria o rumo que tomou.

Pergunto sobre sua prisão no palácio e depois na Sibéria.

- Na verdade, a prisão domiciliar no palácio de Alexandre não foi um pesadelo. Nosso pai, sem os deveres de um czar, tinha muito mais tempo para nós. Ele parecia mais feliz. Mas aí as coisas saíram do controle. Tobolsk não foi boa, mas tínhamos de ser fortes. Eu emagreci muito e fiquei depressiva. Eu até hoje, às vezes, médicos vem aqui e me receitam remédios. Eu tenho medo de ter depressão novamente. Eu não sei se aguentaria.

Quando ela começa a falar da Casa Ipatiev e de Ekaterinburgo, começa a empalidecer e ficar trêmula. 14 anos. E isso acontece.

- Foi...Horrível- ela se limita a dizer. Logo mudo de assunto.

- Quando você conheceu seu marido?- eu pergunto.

A cor começa lentamente a voltar a seu corpo e ela para de tremer.

- Nós somos primos, eu nem lembro de quando o conheci! Éramos bem novos. Sempre tínhamos conversado. Meu pai e o pai do Kostia eram muito amigos. Eu não sei dizer quando me apaixonei por ele, mas aconteceu. Nos casamos em Livadia, no início de 1919. Nossa filha nasceu em Londres em setembro do mesmo ano. A minha mais velha, Yevgeniya.

Perguntei o porque desse nome.

- Pelo médico que fez seu parto, o querido doutor Eugene Botkin, que nos acompanhou até a Sibéria. Eu...

Nesse momento, uma garota de cabelo muito escuro e olhos azuis cintilantes corre até nós. Ela veste um vestido cinzento e chinelos simples com meias da mesma cor do vestido. Ela diz:

- Mãe! A Tatya escondeu meu vestido!

Logo uma outra garota, com o cabelo louro diz:

- Não fui eu!

Olga suspira e diz cansada:

- Tatyana, onde você colocou o vestido dela?

- Se ela fizer o que eu tinha pedido antes, eu falo a ela.

As duas olham ansiosas para a mãe e ela diz:

- Acabe logo com isso, Zhenya, e faça o que quer que ela tenha pedido. Tatya, iremos ter uma conversa depois da minha entrevista. Pense logo nas suas respostas.

- Pode deixar!

Elas foram correndo para dentro da casa.

- Bom, e como eu estava dizendo, também tenho a Tatya. Tatya é a garota loira e Zhenya a morena. Além delas, eu também tenho o  Nikolay, ou Kolya. Ele tem 6 anos, e é o garoto mais lindo que conheço!

Mostrou-me uma foto de um rapaz de cabelo escuro e os mesmos olhos da Grã-Duquesa Eugenia.

- O cabelo eu acho que elas herdaram do Kostia- ela diz sorrindo. Ela se refere ao príncipe Constantino Constantinovich (1891), o seu marido, como os leitores já devem ter percebido- Menos o da Tatya. Ela é a cópia perfeita da avó. O mesmo cabelo e nariz!

Vi uma foto da czarina no seus tempos de garota. A Grã-Duquesa Tatyana (assim grafada para não ser confundida com suas tias) realmente era parecida com a avó. O cabelo louro, os olhos grandes e azulados, os lábios finos. Ninguém pode dizer que ela não é neta da czarina.

- Por que vocês moram aqui, e não na Rússia?- perguntei.

- O Kostia recebeu o cargo de professor de língua e literatura russa na Universidade de Londres, e viemos para cá. Eu gosto de morar aqui, é tranquilo e existem várias coisas para fazer, mas eu ainda prefiro a Rússia. Falo russo em casa com meu marido, Yevgeniya e Kolya; mas Tatya não gosta da língua e fala apenas inglês.

Sobre a educação das grã-duquesas, ela disse:

- Eu fiz um rígido programa educacional para elas. Existe uma sala de estudos no segundo andar, com quadro negro e estantes cheias de livros. Outras 2 garotas estudam aqui também, para que elas não se sintam sozinhas. Uma russa, Galina Mikhailovna, e uma inglesa, Louise Ashton. Galina tem 13 anos e Louise 11. Galina é filha da princesa Danilova, uma boa amiga minha. Em um dia, elas estudam Inglês, Russo, História, Matemática, Geografia, Pintura e piano. Elas tem geopolítica e literatura inglesa e russa 1 vez por semana. Porém, às 9:00 da manhã, elas jogam tênis. A rotina de estudos começa às 8:00 e termina às 15:00, mas quando tem as matérias extras, termina às 18:00. No final de semana elas ficam livres de responsabilidades escolares e eu convido suas amigas para jogarem e conversarem aqui em casa.

Reparei que ela realmente apreciava a educação, o que me levou aos livros.

- E a senhora, tem um livro preferido?

Ela deu um grande sorriso e disse empolgada:

- Sim! Meu livro favorito, atualmente, é Orlando, de Virginia Woolf. A senhorita já leu? É fantástico! Mas eu também gosto muito de poesias, e meu poema favorito é The Raven, de Poe. Eu li o original e o em francês. Eu amo ler!

Começou a cair uma chuva. Uma garota jovem, de cabelo castanho e olhos negros, veio até aqui e levou tudo para dentro. Quando a correria acabou, a grã-duquesa disse alguma coisa em russo, o qual a mulher respondeu e foi logo para dentro.

- Então, mais alguma pergunta?

- Quais são seus amigos na família?

Ela demorou um pouco a responder mas por fim disse:

- Eu me correspondo com minhas irmãs, é claro, e com minhas primas Irina Alexandrovna e Tatiana Constantinovna, e converso quase todo o dia com Maria, que mora bem perto daqui.

Pergunto se eles tem a intenção de voltar à Rússia.

- Oh, sim! Na verdade, Kostia foi contratado para ser professor de literatura na Universidade de São Petersburgo! Tatyana está muito enfezada por isso, ficando mais irritante que o normal. Filhos são uma benção e uma maldição, dependendo do comportamento deles.  Atualmente Tatyana está desrespeitando todas as regras. O pai está quase a dando uma surra de cinto. Mas se depender de mim, isso não acontecerá! E de minha mãe, é claro. Não quero parecer prepotente, mas Tatya deve ser sua neta preferida.

Vejo que já são 17:25. Me despeço e fico com uma impressão completamente diferente da que tinha antes da entrevista.

domingo, 22 de abril de 2012

O Imperador e a Imperatriz- Roger MacDuff

Chego a Malborough House, onde o Czar e a Czarina estão hospedados, 15 minutos antes da entrevista. Quando chego a sala onde a entrevista será realizada, ele se levanta e vem até mim, sorrindo.

- Olá- ele disse em inglês impecável. O czar não era um homem novo. Sua barba era grisalha. Apenas havia cabelo nas laterais. O czar vestia um terno negro e gravata azul. Na gravata havia um belo ícone de um santo (depois eu soube que era São Nicolau, o padroeiro da família imperial russa), cravejado de pequenos brilhantes. A czarina vestia um vestido verde escuro até os tornozelos e uma gargantilha com o mesmo ícone da gravata do czar. Seu cabelo estava quase que completamente branco. Seus olhos eram cinzas, como se toda a cor tivesse se esvaído deles.

- Sua Majestade Imperial- eu disse me curvando ligeiramente. Ele continuou sorrindo.

- Sente-se- ele falou. Eu obedeci imediatamente. Ele me parecia gentil e afável. A czarina me parecia perdida em seus próprios pensamentos, sem dar atenção ao resto do mundo. Talvez o mundo dela se resumisse ao local onde ela estava. Onde seu pensamento estava.

- Vamos começar logo a entrevista? Ou o senhor gostaria de esperar até a hora marcada?

Disse para começarmos logo. Ele concordou com a cabeça.

- Primeiro, gostaria de agradecer por receber-me aqui.

- Tudo bem, não há de quê!- ele riu. A entrevista seria fácil. Ele não era nada do que eu imaginava.

A primeira pergunta foi sobre o que ele sentiu quando teve de se tornar czar. "Incerteza" ele disse. "Eu tinha apenas 26 anos. E era dono de um império que se estendia quase que até a América. Eu admito que tive medo".

A segunda foi sobre a política. Sobre porque a  monarquia constitucional demorou tanto a chegar na Rússia.

- O meu avô, Alexandre II, era muito liberal. Morreu a caminho da reunião que tornaria a Rússia uma monarquia constitucional. O meu pai, por causa do assassinato do meu avô, resolveu que teria de ser duro para evitar que isto acontecesse com ele. Eu continuei as políticas de meu pai talvez porque eu não soubesse o que realmente fazer com a Rússia. Eu nunca fui muito atraído pelo poder e as responsabilidades de ser o czar, mas eu tinha que assumir minhas responsabilidades. Então, eu simplesmente as assumi.

Eu pergunto sobre o Domingo Sangrento e ele fica constrangido. "Foi um erro, um erro muito grave. Eu me arrependo deste dia desastroso. Gostaria de poder voltar para aquele dia e me alertar do que poderia ter acontecido.

Logo chego a Guerra Russo-Japonesa. "Eu nunca gostei do Japão ou dos japoneses, já que um deles tentou me matar. Mas eu não me arrependo. Eu fiz o que achei certo naquele momento".

Falo sobre os controversos progroms contra os judeus. Ele responde de maneira seca: "Não me arrependo. Fiz o que era certo" e o assunto está encerrado. Eu fiquei irritado com a mentalidade preconceituosa do czar, portanto resolvi passar para a próxima pergunta.

Quando falo sobre sua família, ele se ilumina. Pega um álbum de fotos e me mostra. As fotos, ele disse, foram tiradas de 1920 a 1925.

A primeira foto era com o czar, suas duas filhas mais velhas e o czarevich num jardim, que eu li na legenda ser o de Czarskoe Selo. Haviam outras. As grã-duquesas com bebês no colo, e, com o passar do tempo, esses bebês se tornando crianças. Foi muito interessante. Eu o perguntei qual era sua filha preferida.

- É difícil dizer. Eu amo muito todas as minhas filhas e meu filho.


Logo passo aos seus netos.

- Oh, eu tenho muitos! A menina mais velha chama-se Yevgeniya, é a filha de Olga, a minha mais velha. A Olga também tem o Nikolay e a Tatyana. Minha segunda filha, Tatiana, a rainha da Sérvia, tem 3 também: Petar, Nikola e Olga. A Maria, terceira, tem 4 até agora, mas está esperando um quinto! Catherine, Victoria, Alice e Nicholas são dela. Minha mulher mais nova, Anastásia, agora uma princesa da Inglaterra, tem o George e a Olga. E meu filho, o czarevich, tem um filho, Piotr. Sua esposa está grávida.

O imperador desandou a falar sobre seus netos. Podia-se ver que era um homem que gostava da sua família acima de todas as coisas. Passei para a imperatriz, que estava ainda com o olhar perdido no nada.

- E a senhora, czarina? Que tem a dizer sobre a família?

Ela voltou-se para mim, seus olhos ganhando subitamente cor e vida.

- Infelizmente a minha mãe morreu quando eu era muito jovem- ela disse com os olhos lacrimejando- E eu não lembro quase nada sobre ela. Meus dois irmãos mais próximos em idade, Frittie e Mae, também morreram jovens. Meus outros irmãos são Victoria, a mãe do meu genro, Elizabeth, que agora está num convento, Ernesto, o antigo grão-duque de Hesse, e Irene, que casou-se com um prussiano. Meu pai morreu quando eu tinha 20 anos.

De repente, eu senti pena daquela mulher. Uma família arruinada. A rejeição do povo russo. Um filho enfermo. Quem não perderia a sanidade nestas circunstâncias?

- Você teve algum envolvimento com as políticas do Imperador?

- Sim, é claro- ela respondeu. Eu não acredito que ela seja completamente louca. É uma situação estranha. Parece que ela é indiferente a quase tudo, e, às vezes, parece que se encontra em seu próprio mundo, distante do resto de nós. Mas, quando estimulada, ela é sã, completamente sã. A cor voltava a seus olhos. Ela voltava a vida, a superfície. É uma situação estranha. Eu acredito que cada dia é uma luta diária para a imperatriz.

- O que a senhora acha do novo regime russo, finda a autocracia?

O Imperador fez uma cara preocupada. Ela começou a falar:

- Horrível! Horrível! A Rússia não está preparada para isso! É uma grande estupidez! Um grande erro! Não dará certo, NUNCA dará certo! Estamos fadados ao desastre!- Depois dos gritos ela se sentou e voltou a olhar para o nada. Maus estímulos a fazem perder a sanidade, eu concluo.

O czar indagou-me se as perguntas haviam acabado. Eu concordei com a cabeça e ele pegou um envelope de cima da mesa.

- Para o senhor.

- Obrigado. Adeus, majestade.

- Adeus- ele disse sorrindo. Apertei sua mão e fui.

Em casa, mais tarde abri o envelope. Duas cartes de visite dele e da imperatriz, e um ícone da águia Romanov. 

sábado, 21 de abril de 2012

Introdução

Na história verdadeira, a maior parte da família Romanov (sim, incluindo Anastásia) foram mortos pelos bolcheviques entre 1918 e 1919. Mas, na história que eu contarei, tudo aconteceu de um jeito muito diferente...
_______________________________________________
Londres, 1932.


-Ei, atenção aqui!- disse Richard Perkinson na sede de seu jornal. Todas as pessoas pararam e prestaram atenção no careca e barrigudo Perkinson.


- Faremos uma reportagem sobre a família Romanov. MacDuff, você entrevistará o czar e a czarina. Rowanson, você falará com as grã-duquesas filhas do czar. Wilson, entrevistará o czarevich. Peterson ficará com os parentes restantes. Irmãos, sobrinhos, tios do czar. Quem ainda estiver vivo. Vamos aproveitar que toda a família principal está aqui para visitar duas das filhas. Mas antes pesquisem para saber o que perguntar. E vão agora!


Todos se levantaram e foram. Roger MacDuff, incumbindo de entrevistar uma czarina louca e um czar velho, foi aos arquivos do jornal. Arranjou alguns jornais velhos sobre a coroação do czar, a Guerra Russo-Japonesa, a tragédia de Khodynka , o Domingo Sangrento, a abdicação, o retorno. Como, no início de 1920, o exército Branco venceu os bolcheviques e o czar teve de virar um monarca constitucional.


Emily Rowanson, que tinha um conhecimento mais abrangente de história recente, apenas comprou alguns jornais para saber o que acontecia naquele momento. Ela, na época, já havia lido algumas coisas sobre a revolução e como a Rússia era antes da Guerra. O importante era saber o que acontecia naquele momento.


James Wilson não sabia bem o que fazer. O czarevich era um jovem de 26 anos. Talvez ele devesse perguntar as coisas mais óbvias, como o que ele planejava fazer quando virasse czar. Ou sobre a doença que ele tinha.


Alexander Peterson sabia que a pior parte ia ficar com ele. Boa parte da família Romanov no mínimo, não se entendia. Ele tinha que avaliar as prioridades. A mãe do czar.  As irmãs ainda vivas e os sobrinhos. Só isso. Porque senão ele demoraria toda a sua vida para entrevistar todos os Romanov vivos.E o pior é que eles teriam de exibir as entrevistas e fazer artigos.


 Richard Perkinson realmente não tinha consideração.
_______________________________________________________________
No próximo post, eu falo das impressões de MacDuff pelos nossos queridos Nicky e Alix. Ah, esta entrevista será muito, muito interessante...